sábado, agosto 03, 2013

Texto... Por Martha Medeiros



Você estava apaixonado por alguém e levou um 
fora. Acontece mais do que acidente de avião, desastre com romeiros e 
incêndio na floresta. Corações partidos é o grande drama nacional. O que
fazer? Ainda não lançaram um manual de auto-ajuda que consiga eliminar 
nossa fossa, e dos amigos só podemos esperar uma frase, repetida à 
exaustão: tire esse cara da cabeça. Parece fácil. Mas alguém aí me diga:
como é que se tira alguém de um lugar tão cheio de mistérios?

Gostar
de alguém é função do coração, mas esquecer, não. É tarefa da nossa 
cabecinha, que aliás é nossa em termos: tem alguma coisa lá dentro que 
age por conta própria, sem dar satisfação. Quem dera um esforço de 
conscientização resolvesse o assunto: não gosto mais dele, não quero 
mais saber daquele prepotente, desapareça, um, dois e já!

Parece 
que funcionou. Você sai na rua para testar. Sim, você conseguiu: olhou 
vitrines, comeu um sorvete e folheou duas revistas sem derramar uma 
única lágrima. Até que começa a tocar uma música no rádio e desanda a 
maionese. Você não tirou coisa alguma da cabeça, ele ainda está lá, 
cantando baixinho pra você.

Táticas. Não ficar em casa relendo 
cartas e revendo fotos. Descole uma festa e produza-se para matar. Você 
bem que tenta, mas nada sai como o planejado. Os casais que se beijam ao
seu lado são como socos no estômago. Você se sente uma retardada na 
pista de dança. Um carinha puxa papo com você e tudo o que ele diz é 
comparado com o que o seu ex diria, com o que o seu ex faria. Chamem o 
EccoSalva.

Livros. Um ótimo hábito, mas em vez de abstrair, você 
acha que tudo o que o escritor escreve é para você em particular, tudo 
tem semelhança com o que você está vivendo, mesmo que você esteja lendo
sobre a erupção do Vesúvio que soterrou Pompéia.

Viajar. Quem vai
na bagagem? Ele. Você fica olhando a paisagem pela janela do ônibus e 
só no que pensa é onde ele estará agora, sem notar que ele está ali 
mesmo, preso na sua mente.

Livrar-se de uma lembrança é um 
processo lento, impossível de programar. Ninguém consegue tirar alguém 
da cabeça na hora que quer, e às vezes a única solução é inverter o 
jogo: em vez de tentar não pensar na pessoa, esgotar a dor. Permitir-se 
recordar, chorar, ter saudade. Um dia a ferida cicatriza e você, de tão 
acostumada com ela, acaba por esquecê-la. Com fórceps é que a criatura 
não sai.

Martha Medeiros



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe sua opinião, critica e sugestões para post. Qualquer boa ideia é bem vinda!
Beijinhos, Pain :)